Era uma
vez uma bruxa chamada Hildegarda Espinhenta da Cruzes Tortas Chulezenta da
Silva. Seu nome era do tamanho de um ônibus, mas seu apelido era pequenininho:
Meleca.
A bruxa
morava numa cabana no meio da floresta.
A cabana
era linda, cheia de morcegos, teias de aranha, aranhas e ratos.
Mas a
bruxa não agüentava mais viver no meio de tanto verde, com passarinhos cantando
e cascatas de água limpa e cristalina.
Também não
via mais graça nenhuma em ficar transformando os príncipes que passavam por ali
em gordos e velhos sapos.
Ela queria
viver novas e horrendas aventuras.
Um dia,
pegou seu caldeirão, sua vassoura, seu chapéu, seus animais de estimação: a
coruja Filomena, o morcego Veludinho, a barata Cascuda e saiu voando.
Depois de
muitas horas de vôo, avistou uma enorme e encantadora nuvem escura. Mergulhou
de cabeça e ao sair da nuvem escura, ficou maravilhada.
Que
paisagem linda, cheia de prédios e carros e fumaça e lixo!
Mas assim
que Meleca pôs os pés no chão... prunct ploft!
Passou um
caminhão e atropelou sua vassoura.
A bruxa
ficou furiosa! Pegou sua varinha mágica para enfeitiçar o motorista do
caminhão.
Aí
passaram uns meninos correndo, arrancaram seu chapéu e fugiram dando risadas.
A bruxa
correu atrás deles, mas tinha tanta gente que ficou perdida.
Estava
tirando outro chapéu de sua bolsa quando foi cercada por um bando de
crianças que estavam passeando pela rua.
Uma menina
de vestido amarelo com bolinhas vermelhas e sapato vermelho com laço no cabelo
gritou:
- Olha,
uma bruxa de verdade! Conta uma história pra gente, dona Bruxa?
A Bruxa
adorou a ideia de aterrorizar aquelas crianças e começou a contar:
- Era uma
vez um castelo onde viviam dois vampiros e dois lobos.
Eles
passavam o dia inteiro dormindo em seus caixões...
Um menino
de cabelo cor de fogo interrompeu a história e falou:
- Ah, essa
já passou na tv! É chata e sem graça.
Queremos
uma que dê bastante medo!
Meleca fez
uma cara e começou outra história:
- Era uma
vez um esqueleto que roubava criancinhas, que ele comia assadas no forno.
Quando ele
vinha chegando, seus ossos faziam tanto barulho que pareciam chocalhos...
As
crianças começaram a imaginar os crick, plunct, clanc, trec que o esqueleto
fazia.
E riram
tanto que algumas até fizeram xixi nas calças.
A bruxa se
sentiu uma palhaça e gritou:
- Vou
fazer uma grande feitiçaria!!!
E as
crianças aprovaram:
- Oba!
Ela
começou a jogar um monte de coisas dentro do caldeirão.
Jogou rabo
de lagartixa, olho de jacaré, asa de urubu...
E, quando
mexia seu preparado, ia falando as palavras mágicas: Abracadabra, mistura
macabra! Transforme essas crianças em cocô de cabra!
Mas as
crianças também queriam participar da mágica e foram jogando no caldeirão suas
pequenas contribuições: um cocô de cachorro, de plástico, uma peruca de náilon
e uma dentadura de vampiro de borracha.
E iam
também recitando suas abracadices:
- Abracadua
no meio da lua, transforme a bruxa numa perua!
A bruxa
estava mesmo se transformando. Começou a gritar e montou em sua vassoura
quebrada e voou!
E foi
ficando cada vez menor até que sumiu no meio da fumaça.
Ouvi dizer
que ela passou alguns meses internada num hospital para bruxas.
Quando ela
se recuperou dos sustos que levou na cidade, a bruxa voltou para sua cabana na
floresta e abriu uma escola para bruxas, fantasmas, vampiros, diabinhos e
outros colegas parecidos.
O sucesso
é enorme, pois estão todos muito interessados em aprender as novas técnicas de
feitiçarias, atropelamentos e assombramentos em plena moda na cidade.
Lia
Zatz
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