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22 de out. de 2018

Era uma vez uma bruxa


Era uma vez uma bruxa chamada Hildegarda Espinhenta da Cruzes Tortas Chulezenta da Silva. Seu nome era do tamanho de um ônibus, mas seu apelido era pequenininho: Meleca.

A bruxa morava numa cabana no meio da floresta.

A cabana era linda, cheia de morcegos, teias de aranha, aranhas e ratos.
Mas a bruxa não agüentava mais viver no meio de tanto verde, com passarinhos cantando e cascatas de água limpa e cristalina.
Também não via mais graça nenhuma em ficar transformando os príncipes que passavam por ali em gordos e velhos sapos.
Ela queria viver novas e horrendas aventuras.
Um dia, pegou seu caldeirão, sua vassoura, seu chapéu, seus animais de estimação: a coruja Filomena, o morcego Veludinho, a barata Cascuda e saiu voando.
Depois de muitas horas de vôo, avistou uma enorme e encantadora nuvem escura. Mergulhou de cabeça e ao sair da nuvem escura, ficou maravilhada.
Que paisagem linda, cheia de prédios e carros e fumaça e lixo!
Mas assim que Meleca pôs os pés no chão... prunct ploft!
Passou um caminhão e atropelou sua vassoura.
A bruxa ficou furiosa! Pegou sua varinha mágica para enfeitiçar o motorista do caminhão.
Aí passaram uns meninos correndo, arrancaram seu chapéu e fugiram dando risadas.
A bruxa correu atrás deles, mas tinha tanta gente que ficou perdida.
Estava tirando outro chapéu de sua bolsa quando foi cercada  por um bando de crianças que estavam passeando pela rua.
Uma menina de vestido amarelo com bolinhas vermelhas e sapato vermelho com laço no cabelo gritou:
- Olha, uma bruxa de verdade! Conta uma história pra gente, dona Bruxa?
A Bruxa adorou a ideia de aterrorizar aquelas crianças e começou a contar:
- Era uma vez um castelo onde viviam dois vampiros e dois lobos.
Eles passavam o dia inteiro dormindo em seus caixões...
Um menino de cabelo cor de fogo interrompeu a história e falou:
- Ah, essa já passou na tv! É chata e sem graça.
Queremos uma que dê bastante medo!
Meleca fez uma cara e começou outra história:
- Era uma vez um esqueleto que roubava criancinhas, que ele comia assadas no forno.
Quando ele vinha chegando, seus ossos faziam tanto barulho que pareciam chocalhos...
As crianças começaram a imaginar os crick, plunct, clanc, trec que o esqueleto fazia.
E riram tanto que algumas até fizeram xixi nas calças.
A bruxa se sentiu uma palhaça e gritou:
- Vou fazer uma grande feitiçaria!!!
E as crianças aprovaram:
- Oba!
Ela começou a jogar um monte de coisas dentro do caldeirão.
Jogou  rabo de lagartixa, olho de jacaré, asa de urubu...
E, quando mexia seu preparado, ia falando as palavras mágicas: Abracadabra, mistura macabra! Transforme essas crianças em cocô de  cabra!
Mas as crianças também queriam participar da mágica e foram jogando no caldeirão suas pequenas contribuições: um cocô de cachorro, de plástico, uma peruca de náilon e uma dentadura de vampiro de borracha.
E iam também recitando suas abracadices:
- Abracadua no meio da lua, transforme a bruxa numa perua!
A bruxa estava mesmo se transformando. Começou a gritar e montou em sua vassoura quebrada e voou!
E foi ficando cada vez menor até que sumiu no meio da fumaça.
Ouvi dizer que ela passou alguns meses internada num hospital para bruxas.
Quando ela se recuperou dos sustos que levou na cidade, a bruxa voltou para sua cabana na floresta e abriu uma escola para bruxas, fantasmas, vampiros, diabinhos e outros colegas parecidos.
O sucesso é enorme, pois estão todos muito interessados em aprender as novas técnicas de feitiçarias, atropelamentos e assombramentos em plena moda na cidade.

                                                                                                                                                                      Lia Zatz