22 de nov. de 2019

Os três porquinhos - Irmãos Grimm





Era uma vez, na época em que os animais falavam, três porquinhos que viviam felizes e despreocupados na casa da mãe.
A mãe era ótima, cozinhava, passava e fazia tudo pelos filhos. Porém, dois dos filhos não a ajudavam em nada e o terceiro sofria em ver sua mãe trabalhando sem parar.
Certo dia, a mãe chamou os porquinhos e disse:
__Queridos filhos, vocês já estão bem crescidos. Já é hora de terem mais responsabilidades para isso, é bom morarem sozinhos.
A mãe então preparou um lanche reforçado para seus filhos e dividiu entre os três suas economias para que pudessem comprar material e construírem uma casa.
Estava um bonito dia, ensolarado e brilhante. A mãe porca despediu-se dos seus filhos:
__Cuidem-se! Sejam sempre unidos! - desejou a mãe.
Os três porquinhos, então, partiram pela floresta em busca de um bom lugar para construírem a casa. Porém, no caminho começaram a discordar com relação ao material que usariam para construir o novo lar.
Cada porquinho queria usar um material diferente.
O primeiro porquinho, um dos preguiçosos foi logo dizendo:
__ Não quero ter muito trabalho! Dá para construir uma boa casa com um monte de palha e ainda sobra dinheiro para comprar outras coisas.
O porquinho mais sábio advertiu:
__ Uma casa de palha não é nada segura.
O outro porquinho preguiçoso, o irmão do meio, também deu seu palpite:
__ Prefiro uma casa de madeira, é mais resistente e muito prática. Quero ter muito tempo para descansar e brincar.
__ Uma casa toda de madeira também não é segura - comentou o mais velho- Como você vai se proteger do frio? E se um lobo aparecer, como vai se proteger?
__ Eu nunca vi um lobo por essas bandas e, se fizer frio, acendo uma fogueira para me aquecer! - respondeu o irmão do meio- E você, o que pretende fazer, vai brincar conosco depois da construção da casa?
__Já que cada um vai fazer uma casa, eu farei uma casa de tijolos, que é resistente. Só quando acabar é que poderei brincar.
 – Respondeu o mais velho.
O porquinho mais velho, o trabalhador, pensava na segurança e no conforto do novo lar.
Os irmãos mais novos preocupavam-se em não gastar tempo trabalhando.
__Não vamos enfrentar nenhum perigo para ter a necessidade de construir uma casa resistente. - Disse um dos preguiçosos.
Cada porquinho escolheu um canto da floresta para construir as respectivas casas. Contudo, as casas seriam próximas.
O Porquinho da casa de palha, comprou a palha e em poucos minutos construiu sua morada. Já estava descansando quando o irmão do meio, que havia construído a casa de madeira chegou chamando-o para ir ver a sua casa.
Ainda era manhã quando os dois porquinhos se dirigiram para a casa do porquinho mais velho, que construía com tijolos sua morada.
__Nossa! Você ainda não acabou! Não está nem na metade! Nós agora vamos almoçar e depois brincar. – disse irônico, o porquinho do meio.
O porquinho mais velho porém não ligou para os comentários, nem par a as risadinhas, continuou a trabalhar, preparava o cimento e montava as paredes de tijolos. Após três dias de trabalho intenso, a casa de tijolos estava pronta, e era linda!
Os dias foram passando, até que um lobo percebeu que havia porquinhos morando naquela parte da floresta. O Lobo sentiu sua barriga roncar de fome, só pensava em comer os porquinhos.
Foi então bater na porta do porquinho mais novo, o da casa de palha. O porquinho antes de abrir a porta olhou pela janela e avistando o lobo começou a tremer de medo.
O Lobo bateu mais uma vez, o porquinho então, resolveu tentar intimidar o lobo:
__ Vá embora! Só abrirei a porta para o meu pai, o grande leão!- mentiu o porquinho cheio de medo.
__ Leão é? Não sabia que leão era pai de porquinho. Abra já essa porta. – Disse o lobo com um grito assustador.
O porquinho continuou quieto, tremendo de medo.
__Se você não abrir por bem, abrirei à força. Eu vou soprar, vou soprar muito forte e sua casa irá voar.
O porquinho ficou desesperado, mas continuou resistindo. Até que o lobo soprou um a vez e nada aconteceu, soprou novamente e da palha da casinha nada restou, a casa voou pelos ares. O porquinho desesperado correu em direção à casinha de madeira do seu irmão.
O lobo correu atrás. Chegando lá, o irmão do meio estava sentado na varanda da casinha.
__Corre, corre entra dentro da casa! O lobo vem vindo! – gritou desesperado, correndo o porquinho mais novo. Os dois porquinhos entraram bem a tempo na casa, o lobo chegou logo atrás batendo com força na porta. Os porquinhos tremiam de medo. O lobo então bateu na porta dizendo:
__Porquinhos, deixem eu entrar só um pouquinho! 
__ De forma alguma Seu Lobo, vá embora e nos deixe em paz.- disseram os porquinhos.
__ Então eu vou soprar e soprar e farei a casinha voar. - O lobo então furioso e esfomeado, encheu o peito de ar e soprou forte a casinha de madeira que não aguentou e caiu. Os porquinhos aproveitaram a falta de fôlego do lobo e correram para a casinha do irmão mais velho. Chegando lá pediram ajuda ao mesmo.
__Entrem, deixem esse lobo comigo!- disse confiante o porquinho mais velho. Logo o lobo chegou e tornou a atormentá-los:
__ Porquinhos, porquinhos, deixem-me entrar, é só um pouquinho!
__Pode esperar sentado seu lobo mentiroso.- respondeu o porquinho mais velho.
__ Já que é assim, preparem-se para correr. Essa casa em poucos minutos irá voar! - O lobo encheu seus pulmões de ar e soprou a casinha de tijolos que nada sofreu. Soprou novamente mais forte e nada. Resolveu então se jogar contra a casa na tentativa de derrubá-la. Mas nada abalava a sólida casa.
O lobo resolveu então voltar para a sua toca e descansar até o dia seguinte.
Os porquinhos assistiram a tudo pela janela do andar superior da casa. Os dois mais novos comemoraram quando perceberam que o lobo foi embora.
__ Calma , não comemorem ainda! Esse lobo é muito esperto, ele não desistirá antes de aprende ruma lição.- Advertiu o porquinho mais velho.
No dia seguinte bem cedo o lobo estava de volta à casa de tijolos. Disfarçado de vendedor de frutas.
__ Quem quer comprar frutas fresquinhas?- gritava o lobo se aproximando da casa de tijolos.
Os dois porquinhos mais novos ficaram com muita vontade de comer maçãs e iam abrir a porta quando o irmão mais velho entrou na frente deles e disse: -
__ Nunca passou ninguém vendendo nada por aqui antes, não é suspeito que na manhã seguinte do aparecimento do lobo, surja um vendedor?
Os irmãos acreditaram que era realmente um vendedor, mas resolveram esperar mais um pouco.
O lobo disfarçado bateu novamente na porta e perguntou:
__ Frutas fresquinhas, quem vai querer?
Os porquinhos responderam:
__ Não, obrigado.
O lobo insistiu:
Tome peguem três sem pagar nada, é um presente.
__ Muito obrigado, mas não queremos, temos muitas frutas aqui.
O lobo furioso se revelou:
__ Abram logo, poupo um de vocês!
Os porquinhos nada responderam e ficaram aliviados por não terem caído na mentira do falso vendedor.
De repente ouviram um barulho no teto. O lobo havia encostado uma escada e estava subindo no telhado.
Imediatamente o porquinho mais velho aumentou o fogo da lareira, na qual cozinhavam uma sopa de legumes.
O lobo se jogou dentro da chaminé, na intenção de surpreender os porquinhos entrando pela lareira. Foi quando ele caiu bem dentro do caldeirão de sopa fervendo.
___AUUUUUUU!- Uivou o lobo de dor, saiu correndo em disparada em direção à porta e nunca mais foi visto por aquelas terras.
Os três porquinhos, pois, decidiram morar juntos daquele dia em diante. Os mais novos concordaram que precisavam trabalhar além de descansar e brincar.
Pouco tempo depois, a mãe dos porquinhos não aguentando as saudades, foi morar com os filhos.
Todos viveram felizes e em harmonia na linda casinha de tijolos.

O lobo e os sete cabritinhos - Irmãos Grimm


Era uma vez uma velha cabrita que tinha sete cabritinhos, e os amava com todo o amor que uma mãe tem por seus filhos. Um dia ela queria ir para a floresta para buscar algum alimento. Então, ela chamou todos os sete até ela e disse:
— “Queridos filhinhos, eu preciso ir para a floresta, fiquem atentos com o lobo, se ele aparecer, ele irá devorar vocês inteirinho com pele e osso. O infeliz vem sempre disfarçado, mas vocês o reconhecerão imediatamente por causa da sua voz grossa e seus pés pretos.” Os cabritinhos disseram:
— “Querida mãezinha, nós vamos tomar muito cuidado, a senhora pode ir sem preocupação.” Então, a cabrita velha deu um berro e foi embora muito tranquila.
Não passou muito tempo e alguém bateu na porta da casa e gritou:
— “Abram a porta, queridos filhinhos, a mãe de vocês chegou, e trouxe uma supresinha para cada um de vocês.” Mas, os cabritinhos sabiam que se tratava do lobo, por causa da voz grossa:
— “Nós não abriremos a porta,” eles gritaram, ”você não é a nossa mãe. Ela tem uma voz macia e agradável, mas a tua voz é grossa, você é o lobo!”
Então, o lobo foi embora até um gerente de loja e comprou um pedaço de barro, comeu o barro e a sua voz ficou mais suave depois disso. Então, ele voltou, bateu na porta da casa, e gritou:
— “Abram a porta, queridos filhinhos, a mamãe de vocês chegou e trouxe uma surpresinha para cada um de vocês.” Mas o lobo tinha colocado as suas patas negras contra a janela, e as crianças viram e gritaram:
— “Nós não abriremos a porta, a nossa mãe não tem pés negros como os teus. Então, o lobo foi até o padeiro e disse:
— “Eu machuquei as minhas patas, será que você poderia esfregar um pouco de massa para mim.” E quando o padeiro esfregou o pé dele com a massa, ele correu até o moleiro e disse:
— “Espalhe um pouco de farinha de trigo na minha perna para mim.” O moleiro pensou consigo mesmo:
— “O lobo está querendo enganar alguém,” e se recusou; mas o lobo disse:
— “Se você não fizer isso, eu vou te devorar.” Então, o moleiro ficou com medo, e passou farinha de trigo nas patas do lobo. As pessoas são assim mesmo.
Então, ele foi pela terceira vez até a porta da casa dos cabritinhos, bateu e disse:
— “Abram a porta para mim, crianças, é a mamãe que voltou, e trouxe uma coisinha da floresta para cada um de vocês.” As crianças gritaram:
— “Primeiro nos mostre as suas patas para que possamos saber se você é a nossa querida mãezinha.” Então, o lobo colocou as patas pela janela, e quando os cabritinhos viram que as patas eram brancas, eles acreditaram que era verdade, e abriram a porta.
Mas quem entrou senão o lobo! Eles ficaram apavorados e quiseram se esconder. Um saltou para debaixo da mesa, o segundo para debaixo da cama, o terceiro para dentro do fogão, o quarto foi para a cozinha, o quinto se escondeu dentro do armário, o sexto dentro da bacia de lavar louça que era de porcelana, e o sétimo dentro da caixa do relógio. Mas o lobo encontrou todos eles, e não fez nenhuma cerimônia, e um após o outro, ele engoliu todos eles para dentro da sua goela.
O cabritinho menorzinho que estava dentro da caixa do relógio foi o único que não foi encontrado. Quando o lobo havia saciado a sua fome, ele foi embora, se deitou debaixo de uma árvore, e começou a dormir. Logo depois a cabrita mãe voltou novamente para casa vindo da floresta. Ah!, o que ela viu então!. A porta da casa estava toda aberta. A mesa, as cadeiras, e os bancos estavam espalhados, a bacia de lavar louça que era de porcelana estava reduzida a cacos, e os acolchoados e os travesseiros estavam espalhados para fora da cama.
Ela procurou as crianças, mas não os encontrou em lugar nenhum. Ela os chamava pelo nome, um após o outro, mas ninguem respondia. Finalmente, quando ela procurou o menorzinho, uma voz muito fraca respondeu:
— “Querida mamãe, eu estou dentro da caixa do relógio.” Ela tirou o cabritinho de lá, e ele contou para a mamãe que o lobo tinha vindo lá e tinha comido todos os seus irmãozinhos. Então, você pode imaginar como ela chorou por causa dos seus filhinhos.
Finalmente, desesperada ela saiu, e o cabritinho mais novo fugiu com ela. E quando eles chegaram perto do mato, lá estava o lobo debaixo de uma árvore, e roncava tão alto que até os galhos da árvore tremiam. Ela olhou para ele e por todos os lados viu que alguma coisa estava se mexendo e se debatia dentro do seu corpo inchado.
— “Oh, céus,” disse ela, “será possível que meus pobres filhinhos que ele engoliu no jantar, podem ainda estar vivos?”
Então, o cabritinho foi correndo para casa e trouxe a tesoura, e uma agulha e uma linha, e a cabrita mãe abriu a barriga do monstro, e mal tinha ela feito um corte, e um cabritinho colocou a cabeça para fora, e quando ela continuou cortando, todos os seis saltaram, um depois do outro, e todos eles estavam vivos ainda, e não tinham sofrido nenhum ferimento, pois devido a voracidade o lobo os tinha engolido inteirinhos, sem mastigar.
Que felicidade que foi! Então, eles abraçaram a sua querida mãezinha, e eles pulavam felizes como crianças na frente de um sorvete. A mãe, todavia, disse,
— “Agora, vamos procurar algumas pedras grandes, e nós encheremos o estômago do lobo mau com elas enquanto ele ainda está dormindo.” Então, os sete cabritinhos trouxeram as pedras até ali rapidamente, e colocaram todas que couberam em seu estômago, e a mamãe cabra costurou o estômago do lobo bem depressa, e então, ele não desconfiou de nada e nem se mexeu nenhuma vez.
Quando o lobo, finalmente, acordou do seu sono, ele ficou de pé, e como as pedras que estavam em seu estômago o deixaram com muita sede, ele quis ir a um poço para beber água. Mas, quando ele começou a andar e a se mexer, as pedras que estavam em seu estômago começaram a rolar umas contra as outras, como se fosse um chocalho. Então, ele gritou:
— “Que grandes estrondos, pareço ouvir, pensei que fossem os seis cabritinhos, Mas grandes pedras parecem ruir.”
E quando ele chegou no poço, se abaixou para pegar água e ia beber, as enormes pedras o fizeram cair dentro do poço, e não teve jeito, ele acabou se afogando miseravelmente. Quando os sete cabritinhos viram isso, eles vieram correndo até o poço e gritavam alto:
— “O lobo morreu! O lobo morreu! E dançaram a roda da alegria em torno do poço junto com a mãe deles.”

31 de out. de 2019

Atividade de reforço - "Palavras com R em final de sílaba"


Lagarta Pintada - Cia Bola de Meia

Para brincar Jogo de mão


A “Lagarta Pintada” é uma brincadeira cantada bem popular em vários cantos do Brasil.
Existem muitas variações na cantiga. Trouxe este vídeo da Cia Bola de Meia com esta letra:


Lagarta pintada quem foi que te pintou?
foi uma menina que aqui passou
no tempo das areias levanta poeira
pega esta menina pela ponta da orelha.




Como brincar:

As crianças formam uma roda e colocam as mãos para frente. Uma delas vai tocando as mãos das outras, uma de cada vez, enquanto todos cantam a música.
A última criança que teve a mão tocada deve colocá-la na orelha da pessoa que está ao lado. A brincadeira acaba quando todas as crianças estão segurando as orelhas dos colegas ao lado.

30 de out. de 2019

Texto para leitura e interpretação - Dia das bruxas




A bruxa que morava no brejo

Rosimere de Souza Pereira

Broaquinha era uma bruxinha que morava lá no brejo. Ela fez sua casinha bem por cima do brejo, que flutuava como um barco em um rio.
Breno, que era muito curioso, esperou o dia que Bruaquinha saia para seus passeios noturnos, para entrar em sua casa.
Que horror! Tudo era escuro, a casa balançava como se estivesse em um barco. Não dava para ver nada. Breno ouviu um ruído estranho, quando de repente colocou a mão em uma coisa úmida e fria. E uma voz muito feia que gemia enquanto falava:
- O que quer aqui? Não deveria ter vindo. Agora será...
Breno nem esperou o que a voz iria acabar de falar e saiu correndo. Correu tanto, que nem se lembra de como chegou em casa. Mas uma coisa ele aprendeu: nunca mais irá entrar em um lugar onde não for chamado.


Leia o texto e responda às questões:


  1. Qual o título do texto?
  2. Quem é o autor desse texto?
  3. Escreva o nome dos personagens do texto.
  4. Onde morava a bruxinha?
  5. Quem entrou na casa da bruxinha?
  6. Como era a casa da bruxinha?
  7. Em que você acha que Breno colocou a mão?
  8. Qual foi a lição que Breno aprendeu?






Hora da Leitura


A Bruxa da Rua Mufetar
Pierre Gripari


Era uma vez uma bruxa velha que morava em Paris, no bairro dos Gobelins. Era uma bruxa muito velha mesmo, e muito feia, mas o maior desejo dela era se transformar na moça mais linda do mundo.
Um belo dia, ela viu um anúncio no Jornal das Bruxas:
MINHA SENHORA! Se a senhora é VELHA e FEIA pode tornar-se JOVEM e BONITA! É só COMER UMA MENINA com molho de tomate!
E, mais embaixo, com letras menores:
Atenção! É indispensável que o nome da menina comece com a letra N!
Ora, naquele bairro havia uma menina que se chamava Nádia. Era a filha mais velha do Seu Said, o dono da mercearia da rua Brocá.
“Tenho que comer a Nádia”, pensou a bruxa.
Certo dia, a Nádia estava indo até a padaria, quando uma velhinha começou a puxar conversa com ela.
– Bom dia, Nádia!
– Bom dia, minha senhora!
– Pode me fazer um favor?
– Que favor?
– Queria que você me trouxesse uma lata de molho de tomate da mercearia do seu pai. Assim não preciso ir até lá. Ando tão cansada...
Nádia, que tinha um coração muito bom, concordou na hora. Assim que a menina virou as costas, a bruxa – pois a velhinha era a bruxa – começou a rir, esfregando as mãos.
– Puxa, como sou esperta! – ela dizia.
A Nádia mesmo vai trazer o molho de tomate para eu pôr em cima dela.
Chegando em casa com o pão, Nádia pegou na prateleira uma lata de molho de tomate, e já ia saindo quando o pai chamou:
– Ei, onde é que você vai?
- Uma velhinha me pediu para eu levar uma lata de molho de tomate à casa dela.
– Nada disso – disse o Seu Said.
– Se a tal velhinha estiver precisando de alguma coisa, ela que venha buscar.
Nádia, que era muito obediente, não insistiu. Mas no dia seguinte, quando ela saiu para fazer compras, a velhinha chamou de novo:
– Como é, Nádia! E meu molho de tomate?
– Desculpe – disse Nádia, corando –, mas o meu pai não deixou. Ele disse que é para a senhora mesmo ir buscar.
Está bem – disse a velha –, eu vou.
De fato, naquele mesmo dia ela foi à mercearia:
– Bom dia, Seu Said.
– Bom dia, minha senhora. O que deseja?
– Eu queria a Nádia.
– Hein?
– Ah, desculpe... quer dizer: uma lata de molho de tomate.
– Pois não! Grande ou pequena?
– Grande, é para pôr na Nádia...
– O quê?
– Não é nada disso, eu quis dizer que é para pôr no macarrão...
– Ah, tudo bem! Se quiser, também tenho macarrão...
– Não precisa, não, já tenho a Nádia...
– Como?
– Desculpe, eu quis dizer que já tenho macarrão em casa...
– Então... aqui está seu molho de tomate.
A velha pegou o molho de tomate e pagou, mas em vez de ir embora ficou parada com a lata na mão:
– Hum! É meio pesado... Será que não daria para o senhor...
– O quê?
– Mandar a Nádia levar para mim?
Mas o Seu Said já estava meio desconfiado.
– Não, minha senhora, não fazemos entrega a domicílio. E a Nádia tem mais o que fazer. Se a lata é pesada demais para a senhora, paciência, é só deixá-la aqui!
– Tudo bem – disse a bruxa. – Pode deixar que eu levo. Até logo, Seu Said.
– Até logo, minha senhora.
E a bruxa foi-se embora, levando a lata de molho de tomate. Chegando em casa, ela pensou:
“Tenho uma ideia. Amanhã de manhã vou até a rua Mufetar, disfarçada de vendedora. Quando a Nádia for fazer compras, eu pego ela..”
No dia seguinte, lá estava a bruxa disfarçada de açougueira, quando a Nádia chegou.
– Bom dia, menina. Vai levar carne?
– Não, obrigada, vou comprar frango.
“Droga!”, pensou a bruxa.
No dia seguinte ela se disfarçou de vendedora de frangos.
– Bom dia, garota, quer comprar um frango?
– Não, obrigada, hoje vou levar carne.
“Droga, droga!”, pensou a bruxa.
No terceiro dia, outra vez disfarçada, ela estava vendendo carne e frango.
– Bom dia, Nádia, bom dia! O que você vai levar? Veja só, hoje estou vendendo de tudo: carne de vaca, de carneiro, frango, coelho...
– Pois é, mas hoje eu quero peixe!
“Droga, droga, droga!”
A bruxa voltou para casa e ficou pensando, pensando, até que teve outra ideia:
“Tudo bem, já que é assim, amanhã de manhã vou me transformar em TODAS as vendedoras da rua Mufetar!”
De fato, no dia seguinte todas as vendedoras da rua Mufetar eram a bruxa (267 vendedoras).
Como sempre, Nádia chegou e, sem desconfiar de nada, parou na quitanda para comprar legumes. Comprou umas ervilhas e, quando foi pagar, a vendedora a agarrou pelo pulso e clac! trancou-a na gaveta da caixa.
Felizmente Nádia tinha um irmãozinho chamado Bachir. Como a irmã mais velha estava demorando para voltar para casa, Bachir pensou:
“Decerto a bruxa pegou minha irmã, preciso ir atrás dela.”
O menino passou a mão no violão e lá se foi para a rua Mufetar. Quando foi chegando, as 267 vendedoras (que eram a bruxa) começaram a gritar:
Onde você está indo, Bachir?
Bachir fechou os olhos e respondeu:
– Sou um pobre ceguinho, queria cantar uma canção para ganhar uns trocados!
– Que canção: – perguntaram as vendedoras.
– Quero cantar uma canção que se chama Nádia, onde está você?
Não, essa não, cante outra!
– Mas eu só sei essa!
– Então cante bem baixinho!
– Tudo bem, vou cantar baixinho!
E Bachir começou a cantar bem alto:
Nádia, onde está você?
Nádia, onde está você?
Responda que eu escuto!
Nádia, onde está você?
Nádia, onde está você?
Há tanto tempo não a vejo.
– Mais baixo! Mais baixo! gritaram as 267 vendedoras. – Desse jeito você vai arrebentar nossos ouvidos!
Mas Bachir continuou a cantar:
Nádia, onde está você?
Nádia, onde está você?
De repente, uma vozinha respondeu:
Bachir, Bachir, venha me soltar senão a bruxa vai me matar!
Ouvindo essas palavras, Bachir abriu os olhos, e as 267 vendedoras pularam em cima dele, gritando:
– É um cego falso! É um cego falso!
Mas Bachir, que era muito corajoso, levantou seu violãozinho e deu com ele na cabeça da vendedora que estava mais perto. Ela caiu dura, e ao mesmo tempo as outras 266 também caíram.
Então Bachir foi entrando em todas as lojas, uma por uma, sempre cantando:
Nádia, onde está você?
Nádia, onde está você?
Mais uma vez, a vozinha respondeu:
Bachir, Bachir, venha me soltar senão a bruxa vai me matar!
Dessa vez não havia dúvida: a voz vinha da quitanda. Bachir entrou na loja, pulou por cima do balcão, bem na hora em que a vendedora estava acordando do desmaio e abriu um olho. Ao mesmo tempo, as outras 266 também abriram um olho. Felizmente, Bachir percebeu e, com uma pancada de violão bem dada, fez todas desmaiarem por mais alguns minutos.
Então, ele tentou abrir a gaveta da caixa, enquanto Nádia continuava a cantar:
Bachir, Bachir, venha me soltar senão a bruxa vai me matar!
Mas a gaveta estava emperrada e Bachir não conseguia abri-la. Nádia cantava e o irmão tentava... e enquanto isso as 267 vendedoras acordaram de novo. Mas desta vez elas não abriram os olhos! Ficaram de olhos fechados e foram todas se arrancando devagarinho até a quitanda, para cercar o Bachir.
O menino estava exausto e não sabia mais o que fazer. Então ele viu um marinheiro alto, jovem, de ombros largos, que vinha descendo a rua.
– Bom dia, marinheiro, quer me fazer um favor:
– Que favor?
– Levar esta caixa até nossa casa. Minha irmã está presa dentro dela.
– E o que é que eu ganho em troca?
– Você fica com o dinheiro e eu fico com a minha irmã.
– Combinado!
Bachir levantou a caixa e já ia passá-la para o marinheiro quando a vendedora de legumes, que tinha se aproximado devagarinho, agarrou o pé dele e começou a guinchar:
– Ah, bandido, peguei você!
Bachir perdeu o equilíbrio e largou a caixa. A caixa, que era muito pesada, caiu bem em cima da cabeça da vendedora. Com isso, as 267 vendedoras caíram com a cabeça esmagada. Dessa vez a bruxa morreu, e bem morta.
Mas não foi só isso. Com a pancada, a gaveta da caixa abriu e a Nádia saiu.
Ela beijou o irmãozinho, agradeceu, e os dois voltaram para a casa dos pais, enquanto o marinheiro catava o dinheiro da bruxa.